domingo, 16 de fevereiro de 2020

A Extinção: Aldeão.

A extinção


Era um dia seco e quente, com cheiro de poeira. As pessoas descansavam na sombra de suas casas, a noite já dava sinais de querer aparecer. O dia tinha sido cansativo: plantar é bem mais desgastante do que parece. Hoje há uma caravana de mercadores na cidade, a noite deve ser animada na taverna.
Já é hora de ir pra casa, eu e meu filho estamos exaustos, porém com a sensação de dever cumprido: nossa família a cada dia pode ter mais certeza de que terá um período de prosperidade. Partimos em direção a nossa casa.
Uma fagulha. Uma luz. Gritos. Desespero.
Arvores pegando fogo, isso nunca é um bom sinal, ainda mais quando acontece aos pés da sua casa. Corre-corre. Água, baldes. Crianças chorando. Minha casa em poucos segundos já é apenas uma fogueira. Não vejo o restante de minha família. Água, baldes, areia. O vento empurra as labaredas pra dentro da vila. Agora há elfos tentando apagar o fogo. Baldes, areia, cadê a água? Meu filho cai enquanto carrega o que pode enquanto olha para os lados procurando sua irmãzinha. A floresta parece um portal para o inferno. Só o fogo pode demonstrar tamanha paixão por destruição, só o fogo consume tudo o que nós construímos com tanto esforço em questão de minutos. Água, baldes, areia. “Saiam das casas”, “deixem as coisas”, “ajudem-nos”. Já é tarde, acho que metade da aldeia não existe mais.
Mais pessoas saem da floresta, um cavalo vai em direção ao fogo acompanhada por uma menina. Orcs. Anão. Humanos. Toda a floresta tenta apagar o fogo. Há mais água. Baldes, areia. Corrida. Filho. Minha mulher. Fumaça. Balde, água. Areia. O ciclo não termina. Estou a horas gritando e carregando água. O vento é nosso inimigo, ele sopra para o lado contrário e empurra o fogo para onde tem mais casas.
A vila não resistiu. A floresta não resistiu. O General Fogo venceu mais uma vez. Nossas plantações não existem mais. Minha família não tem mais certeza de nada. Que família? Vejo meu filho e minha mulher. A floresta apaga após a chuva iniciar. Os habitantes selvagens ajudam, mas já é tarde, não há mais nada para salvar.
Finalmente eles conseguem fazer chover. O horror é constante. O que aconteceu? Um “qualquercoisa” levou tudo o que tínhamos para sobreviver.

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